O cacau baiano cresceu e voltou a ser destaque no país. A pesquisa
da Produção Agrícola Municipal (PAM), realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), divulgada na quinta-feira
(12), relevou que, em 2023, a Bahia retomou a liderança nacional na
produção de cacau após cinco anos, com Ilhéus sendo o 4º maior produtor
do país.
Os
pesquisadores investigaram 64 produtos nos municípios do Brasil que
realizam esse tipo de produção. As fontes são as associações de
produtores, órgãos públicos e entidades diversas ligadas à agricultura.
Foram observados a área de campo plantada, a área colhida, a produção em
toneladas e o valor da produção. Em 2023, a Bahia produziu 139.011
toneladas de amêndoas de cacau, cerca de 860 toneladas a mais que o ano
anterior.
O número
representou alta de 0,6% em produção e de R$ 2,4 bilhões em vendas,
16,1% a mais que em 2022 (+R$ 326,6 milhões). Os baianos ultrapassaram o
Pará, cuja produção foi de 138.471 toneladas, registrando queda de 5,2%
em relação a 2022, e assumiram a liderança nacional. Os pesquisadores
explicam:
“Apesar de não
ter tido a maior safra de cacau do país em 2023, o Pará tinha os três
maiores produtores entre os municípios: Medicilândia (44.178 toneladas),
Uruará (21.266 t) e Placas (12.788 toneladas). A Bahia aparecia na
sequência, com Ilhéus (8.961 toneladas, 4º maior produtor), Wenceslau
Guimarães (8.775 t, 5º maior) e Ibirapitanga (8.655 t, 6º maior
produtor)”, diz o estudo.
A liderança
nacional fez muitos produtores relembrarem os tempos áureos do cacau no
Sul da Bahia. Antes da vassoura-de-bruxa destruir as plantações, na
segunda metade da década de 1980, a região chegou a produzir 400 mil
toneladas em um ano. Como o CORREIO mostrou em uma série de reportagens
publicadas em março deste ano, o impulsionamento atual do mercado está
relacionado com questões internas no estado e por razões externas ao
Brasil.
A primeira
mudança foi na produção. A busca por espécies exóticas e nativas,
combinada com árvores frutíferas, substituiu as técnicas antigas. Além
disso, hoje, a cacauicultura baiana está presente em todo processo,
desde a plantação até a comercialização direta ao consumidor, em forma
de barra de chocolate. Essa mudança tornou a produção mais sustentável.
Dados do
Panorama do Mercado de Cacau, produzido pelo ItaúBBA, divulgados no
começo do ano, mostraram que o ciclo de valorização do produto persiste
em 2024, impulsionado pela demanda aquecida no mercado internacional. Na
Bolsa de Nova Iorque, principal espaço para comercialização da
commoditie agrícola, a valorização nos preços do produto foram de 63% em
2023 e de 22% nos primeiros meses de 2024.
Os países da
África são responsáveis por 70% de todo o cacau colhido no mundo. O
Brasil é o sexto maior produtor mundial, e o primeiro fora da África. Em
2023, Costa do Marfim, principal produtor global, sofreu com um clima
mais seco, seguido por período excessivos de chuvas. Isso contribuiu
para a proliferação de doenças do cacaueiro, principalmente a do broto
inchado, e o El Niño impôs clima mais seco e mais quente para a região.
Entre dezembro
do ano passado e março deste ano, a região sofreu também com
movimentação dos ventos Harmattan, ou seja, ventos secos e frios que
varrem a costa ocidental africana, atuando com forte intensidade nessa
temporada.
Queda
Apesar da boa
fase do cacau, de maneira geral o valor da produção agrícola da Bahia
encolheu R$ 2,8 milhões em 2023. A produção total foi de R$ 43,3
bilhões, o que representou 6% a menos que os R$ 43,3 bi registrado em
2022. A queda foi puxada pela soja (menos R$ 3,7 bi), que, ainda assim,
se manteve como o produto agrícola com o maior valor gerado no estado
(R$ 17 bilhões). A supervisora do IBGE, Mariana Viveiros, explicou que
os número são reflexo de uma conjuntura internacional.
“Em 2022,
tivemos um ano de recorde nos preços internacionais das principais
commodities, como influencia da pandemia e do conflito entre Rússia e
Ucrânia. Em 2023, já não temos mais essa conjuntura, os preços já não
estão mais tão aquecidos, houve a superação da situação de pandemia e a
guerra enfraqueceu como fator de influencia. Os preços desses produtos
caíram”, explicou.
Outro fator
apontado pela especialista foi o aumento da produção. Na Bahia, entre
2022 e 2023, a safra de grãos cresceu 12,2% e alcançou o recorde de 12,7
milhões de toneladas, porém, o valor gerado caiu 12,1% no período.
Apesar da
queda, a Bahia manteve o 8º maior valor agrícola do Brasil. Dos 45
produtos agrícolas pesquisados na Bahia, 28 cresceram de valor,
liderados pela produção de manga (mais R$ 615,5 milhões), algodão (mais
R$ 480,9 milhões) e cacau (mais R$ 326,6 milhões). Os municípios de São
Desidério e Formosa do Rio Preto foram os mais bem posicionados no
ranking nacional, no 2º e no 7º lugar do país, respectivamente. A cidade
de Sorriso (MT) liderou a lista.
A Associação
de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), a Associação Baiana dos
Produtores de Algodão (Abapa) e a Secretaria da Agricultura, Pecuária,
Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) foram procuradas para comentar
os resultados da pesquisa, mas ainda não se manifestaram.
Confira as maiores produções de cacau por estado:
Bahia (139 mil toneladas)
Pará (138 mil toneladas)
Espírito Santo (12 mil toneladas)
Rondônia (5 mil toneladas)
Amazonas (597 toneladas)
Confira as maiores produções de cacau por municípios: